Yellow Umbrella

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Yellow Night (dead end ver.)


Resolvi então reescrever o conto "Yellow Night", aproveitei umas ideias e sugestões de professores da escola e de um amigo. Espero que gostem do fim que dei a história. Ele não é definitivo e portanto pode ser "alterado" conforme o gosto de vocês. Basicamente é o mesmo conto  de uma maneira independente, sem precisar do resto dos contos daqui. Além da minha escrita melhorada. 

Flava ombrelo (Guarda-chuva amarelo)

Madrugada de 23 de agosto de 2012.
Era uma noite quente de verão na cidade de Helianthus, muitos jovens como eu, principalmente universitários solteiros, aproveitavam a noite para se divertir. O “point” mais famoso da cidade era a Yellow Night. Conhecida pelas festas temáticas, onde geralmente você precisava ir com algum item da vestimenta na cor amarela. Foi lá mesmo que a encontrei.
Música alta, bebidas, beldades dançando na pista... O ambiente estava propício para “caça”. Depois de analisar várias meninas, escolhi uma morena dançante. Ela parecia tão descontraída... de uma certa forma se misturava ao cenário da cidade lá fora. Além do mais, aparentava estar bêbada, e isso facilitava a minha conquista.
Me aproximei devagar, como havia feito tantas outras vezes... Dancei um pouco ao seu redor antes de cochichar besteirinhas ao pé do seu ouvido. Em dois minutos eu já sentia seus lábios nos meus. Quentes... molhados... além, do cheiro de vodka que ela exalava. Mesmo bêbada ela beijava bem, e isso era ótimo.
- Quer sair daqui? - perguntei.
- Pra onde? - Ela respondeu meio vacilante, aposto que se estivesse sóbria teria recusado.
- Ah, pro meu apartamento!
- Eu adoraria...
Peguei-a pela mão, “Está feito!”, pensei. Quando estávamos quase na porta da saída, ela lembrou que precisava pegar alguns pertences no guarda-volumes. Esse tipo de atraso sempre me irritou. E para piorar, era um guarda-chuva amarelo, que além de feio era desnecessário, devido a escassez de chuvas desta época do ano nesta região do país.
Logo estávamos à cem por hora, em direção ao meu apartamento. Minha moto é minha companheira, sempre senti que numa cidade podre e suja como esta, só ela seria confiável.
- Estou com medo – disse ela, apertando minha cintura.
- Do quê? - gritei, praticamente. O ruído da cidade atrapalhava nossa comunicação.
- Você está indo muito rápido!
- Feche os olhos, então. - sugeri, mal sabia que me arrependeria de ter sido tão frio.
Ela recostou a cabeça em minhas costas e segurou-se com mais força em meu abdômen. “Droga, essa aí é sentimental! O pior tipo de se livrar na semana seguinte.” Foi o único pensamento que me veio a cabeça durante a viagem. Meu negócio era sempre sexo e tchau!, mas as sentimentais nunca entendem.
Elas não entendem que para saciar o desejo carnal, os homens iludem, falam, mentem e desmentem. Mas a vida as faz entender. Eu as fazia entender.
Quando chegamos ao estacionamento, a primeira coisa que ela fez foi checar se o guarda-chuva ainda estava preso à lateral da moto. Resolvi então perguntar:
- Pra quê esse guarda-chuva?
- Nunca se sabe quando pode chover, não é? - após dizer isso ela deu um sorrisinho meio vacilante, como quem tem medo de ter desagradado. Definitivamente ela era linda... “Pena ser uma maluca...”, eu pensei. Quem me dera lamentar apenas sua suposta maluquice hoje.
No elevador trocamos algumas informações banais, como nome, interesses, idade, etc... Coisas que eu faria questão de esquecer depois. Ao entrar no apartamento, ofereci água, biscoitos (velhos) e mostrei onde era o banheiro. Ela recusou todas as ofertas e foi direto para o quarto. Isso a fez alguns pontos comigo.
Beijos para nos conhecermos melhor, tirar a roupa com jeito para nos entreter, preliminares curtas... e já estávamos no ato! E nossa! Devo salientar aqui que ela sabia o que estava fazendo.
Seu corpo, jovem, cheio de amor para dar, cheio de energia! Nesta noite ofereci o meu melhor para essa estranha, e senti que ela ofereceu o seu melhor também. Nossos corpos estavam em sintonia, nossos beijos... nossos olhares... Cada movimento, cada expressão, cada gemido abafado. Ao passo que o ato se concluía, eu percebia a joia rara que se deleitava comigo em minha cama. Também comecei a cogitar ligar no dia seguinte, deixar-me apaixonar. Realmente, ela era demais!
Terminamos quando nossas energias haviam se esgotado, logo ao amanhecer. Dormimos enroscados, como um casal extremamente íntimo. A noite que tivemos nos tinha concedido tal privilégio.


* * *


Acordei sozinho, e estava chovendo. Ela estava certa... Andei pelo apartamento e não a encontrei, estaria ela no banheiro? Tentei lembrar do seu nome para chamá-la a porta, “Clarissa? … Cecília?”, que seja! Entrei sem bater e para minha surpresa ela não estava lá. Fiquei louco só de pensar que nunca mais a veria, procurei vestígios, o guarda-chuva...? Isso! Estava lá, encostado na cama. Legal! Agora vou ter uma desculpa para revê-la!
Notei que havia um nome grava no mesmo, que sorte! Procurei em todas as redes sociais populares, mas não encontrei nenhum perfil que parecesse ser o dela.

“Clarissa N. de Sá”

Tentei então simplesmente a busca convencional. Não que eu esperasse encontrar algo a esse ponto, afinal... eu mereço ser sacaneado. Mas como último recurso, tentei mesmo assim!
Encontrei alguns resultados, mas todos com fotos que não eram dela. Depois de duas horas procurando, quando estava quase perdendo as esperanças, digitei na barra de pesquisa “Clarissa N. de Sá guarda-chuva amarelo”. Para a minha surpresa seis resultados apareceram, todos compatíveis com o que procurei e todos páginas de jornais regionais.
Abri o primeiro resultado, eu tentaria todos se fosse necessário. Não foi preciso. A foto dela foi a primeira imagem a carregar, a notícia era de exatamente dois anos atrás. Corri a página em busca de algum endereço ou telefone de contato, até perceber o aspecto “policial” que a página continha.
Parei, respirei. Então li a matéria com calma.
O texto relatava um caso mórbido de homicídio, no qual, uma frequentadora da famosa “rave” chamada “Yellow Night”, tinha sido estuprada e assassinada ao voltar para casa. Outros detalhes deixavam o caso mais sinistro: ela tinha sido espancada com um guarda-chuva que carregava, o qual, segundo a família, foi um presente de infância.
Li quase todas as matérias que encontrei sobre o caso, muitas vezes. Olhava para o guarda-chuva recostado a beira da cama, incrédulo, e então voltava a reler. Quando percebi, já era noite. Isso estava me deixando louco, o que acontecera esta noite afinal?
Joguei meu corpo na cama. Acabei adormecendo. No sonho, lembrava a noite surreal que tive. Cada momento, cada palavra, cada olhar. Minha débil consciência onírica pensava “Se ao menos eu soubesse que eu te teria só por uma noite!”.
Acordei em meio a lágrimas, abafei um grito de desespero no travesseiro. Então peguei o guarda-chuva, cheirei-o, apertei-o contra mim...
Joguei com raiva o maldito guarda-chuva pela janela, que se abriu durante a queda. Ainda chovia lá fora. E ele estava lá, aberto, forte, imponente, se defendendo da chuva. Hesitei por um momento, mas corri para o térreo. Eu precisava recuperá-lo.
Recuperei o tal guarda-chuva, para mim, para se fundir a mim. E espero que esta carta explique o motivo do meu suicídio.
Vou te reencontrar querida Clarissa.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Diego, o fabricante de guarda-chuvas


Diego havia herdado de sua família uma fábrica, na verdade uma oficina, grande o suficiente para tê-lo feito rico. Nesta oficina, podemos ver máquinas que auxiliam na confecção de guarda-chuvas, guarda-sóis e sombrinhas. Ele de fato se orgulha muito do nome de sua fábrica.

"Helianthus"

Significa "girassol" em grego, o fundador da fábrica, seu avô, era obcecado por este idioma, e Diego herdou essa obsessão. Desde os tempos de escola já tentava aprender o idioma, até que na juventude, antes de se casar e se juntar a um partido esquerdista, fez finalmente um curso. Visitara a Grécia com a mulher muitas vezes, e como amava aquele país! Se ele tivesse filhos com certeza levaria-os para as férias de verão e falaria apenas grego com eles, mas sabe-se que o casal não pode gerar descendentes. Qual dos dois é estéril, não sabemos. É algo que os dois guardam para a intimidade, sábio da parte deles. 
Diego nunca foi do tipo que expressava claramente os seus sentimentos, a rotina administrativa da fábrica o deixou um homem frio, calculista, prudente e precavido. Ninguém sabia ao certo do que se tratavam seus sentimentos, nem mesmo seu melhor amigo (se é que este existia), nem mesmo seus pais, nem mesmo sua esposa. A vida no ramo dos negócios o ensinou, que homem sentimental, não tem um caminho de sucesso.
Certo dia, ao voltar pra casa, teve de puxar o freio bruscamente. Para que seu carro não atropelasse uma menina morena, que atravessava a rua correndo, seguindo seu balão amarelo fujão. O impacto foi inevitável, por mais que Diego tivesse tentado impedir, o carro acabou por colidir com o leve corpo da criança... Saiu do carro ás pressas e foi verificar a garota, estava estendida, parecia estar viva... tinha apenas alguns arranhões. "Graças a Deus", pensou Diego, mesmo sendo ateu convicto. Lá adiante via os pais da menina, vieram desesperados, a moça levava um cachorro na guia.
- Meu Deus! Minha filha!! - a mãe se ajoelhou e foi logo tentando reanimar a menina.
- O que o senhor fez com ela? - o pai veio tirar as satisfações.
Diego foi logo se explicando, que a menina tinha atravessado a rua repentinamente, que a culpa não tinha sido dele, etc. A garota acordou às primeiras lambidas do cachorro, e logo mais a tarde, o casal e Diego já eram conhecidos. Descobriram que moravam perto e assim que Diego foi pego desprevenido, de certa forma tinha exposto seus sentimentos... foi sem querer! Ao pôr-do-sol comprou mais um balão amarelo para a garotinha, essa aliás, era sua cor favorita.
Certa manhã, Diego via a menina ir para a escola da janela de seu quarto. A pequena era tão adorável! Ela e sua irmã mais velha, esta por sinal tinha um ar amedrontador!

"Daqueles de irmã mais velha bem malvada!"

Diego se pegou pensando nessas coisas tão infantis e riu-se, quando na verdade deveria estar se aprontando para o trabalho e cuidando de "coisas de adulto".
No caminho foi pensando, em tudo, sobre Clarissa, sobre não poder ter filhos, sobre herdeiros...

"Quem vai cuidar da Helianthus depois que eu morrer?"
"E se...?"
"Não, de forma alguma. Isso seria extremamente insensato.."
"Mas... e... !!" 

Os meses foram passando, as duas famílias se tornavam cada vez mais próximas. Diego descobriu até que o sobrenome deles era "Sá", quem diria... "Sá"... ! Um sobrenome tão simplório!
Diego e o sr. Sá saiam aos finais-de-semana com outros amigos, fundaram um clube de pesca. Sua mulher e a sra. Sá tomavam chá juntas, faziam compras e indicavam novos remédios para o rejuvenescimento da pele!
Diego, aos poucos foi se tornando um homem mais doce, gentil... A relação do casal se tornou mais estável, parecia que realmente agora, eles sabiam o significado do amor, de ser uma família. Foi então que pensaram em adotar uma criança, mas o plano não foi adiante, já que a filha dos Sá passava boa parte de seu tempo livre na residência do casal. A esposa de Diego ensinava piano para a menina nos finais de tarde, e Diego a ensinava grego todos os domingos. Isso quando não estavam juntos, regando flores ou assistindo filmes antigos de comédia.
Mas foi no aniversário de doze anos da filha dos Sá, alguns anos mais tarde, que Diego resolveu dar um presente especial: um guarda-chuva feito artesanalmente. Não era daqueles que são feitos pra quebrar, ou virar do avesso ao primeiro pé de vento! Não... Esse era forte, especial, e ao mesmo tempo leve. E o melhor de tudo, tinha um nome gravado em baixo relevo:

Clarissa de Sá

Dizem que até hoje a menina presenteada anda com seu guarda-chuva exclusivo, por aí...

domingo, 23 de setembro de 2012

Lectum


Ela se encontra deitada em sua cama, a dor de cabeça não a deixou dormir esta noite. Depois daquela visão, a do acidente, não tem dormido direito.
Fernanda é ateia, mas nesse momento poderia rezar para a primeira entidade espiritual que a oferecesse o cessar daquelas malditas dores-de-cabeça. Ultimamente ela comia de forma desregulada, ou não comia. Seu interesse sexual, se estivesse ali era quase nulo. Ela nunca sentiu atração por homens, e o pouco de interesse por meninas que ela tinha estava desaparecendo. Também sentia lapsos de memória, partes do dia que simplesmente não lembrava o que tinha feito. Todos esses problemas poderiam atrapalhar a sanidade mental de qualquer um, mas Fernanda só se tornou mais criativa. Quando sentia que as dores viriam, ela rapidamente apanhava um lápis e escrevia sobre pensamentos aleatórios ou fazia desenhos na parede de seu quarto, estes eram psicodélicos demais pra quem nasceu nos anos 90. Exercia suas habilidades artísticas até que o sono fosse maior que a dor, então dormia.
O trabalho a estressava, todo o dia a mesma coisa. Secretária de um escritório qualquer no centro da cidade, detestava aquele emprego. Talvez ali, naquele escritório fosse onde poderíamos encontrar sua única amiga: Marcela, a ruiva estagiária. As duas sempre conversavam sobre coisas banais, Marcela sempre foi do tipo tímida e Fernanda sempre gostou de incitar esse tipo de timidez. Não mantinham muitos interesses em comum, mas o lugar e o estresse da rotina obrigavam-as a socializar.
A faculdade era o que a mantinha viva, seu professor favorito a havia elogiado, dizendo que ela conseguira "encontrar a alma do personagem" no último ensaio. E isso a movia. Mas talvez não devesse se importar tanto com os estudos agora, sair com os colegas de vez em quando, se divertir pra variar. Eles sempre vão a uma boate aos sábados, a Yellow Night. Quem sabe se ela visitasse a tal boate num final-de-semana qualquer? Poderia convidar Marcela para não se sentir tão sozinha lá... 
Todos esses pensamentos passavam pela cabeça de Fernanda, deitada em sua cama. Desta vez não encontrou seu lápis de escrever coisas aleatórias ou seu pincel de pintar desenhos psicodélicos, só lhe resta pensar... até que durma e acorde bem novamente.


"Yellow Night"
"Por que este nome?"
"As pessoas devem vestir  amarelo?"
"Eu poderia até levar aquele guarda-chuva..."
"Bem, nunca se sabe quando pode chover nesta cidade..."
"Eu mesma presenciei estas chuvas repentinas..."
"Naquele dia..."




E assim, Fernanda dormiu. 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pre- Giovanna e René


Breve explicação disso.

yellow is the theme

É agoniante saber que eu vou te perder, sendo você o único que satisfaria meu coração. 
Eu o quero, eu o desejo perto de mim, junto ao meu peito. Como uma música calma e lenta, com acordes melancólicos e ao mesmo tempo confortadores, harmonias consoantes e intervalos de meia-oitava. 


Te quero por completo, aqui.

Um dia você vai perceber. Vai perceber que sou eu a única que te merece, que te pretende. Vai perceber que solto por aí, nesta cidade, vai sofrer e provavelmente entrar em depressão.

Não! Eu não vou deixar que saia da minha vida desse jeito, não vou deixar que me abandone agora! Eu te amo! 

É inútil te ameaçar, você não entende que o meu amor é a única coisa que pode te completar. Desse jeito vai dar tudo errado, tudo errado. 

Mesmo que tente me desamparar vou te costurar a mim, bem perto de mim, ao lado da minha cama. 

"Você é doente."

Como ousa me renegar? Mesmo depois de tudo que passamos? 
Foi aquela morte, não foi?

Eu sei que foi, você não consegue esquecê-la. Por isso guardou seu guarda-chuva. 

AQUELE
            ESTÚPIDO
                            MALDITO
                                          GUARDA-CHUVA
                                                                      AMARELO.

Não vai conseguir sair daqui, você vai ficar comigo para sempre. Amor. Eu te amo e vamos ser felizes dentro deste apartamento. Só nós dois. E não adianta me lançar esse olhar, sei o que está pensando.

"A Giovanna deve estar louca", não é?

Vem cá, deixa eu te amar.

Vocês podem imaginar como a faca de cozinha foi para onde foi depois disso.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Galeria Flavis


O conto a seguir é parte complementar dos contos Yellow Night e Giovanna e René, sugiro que leia-os para melhor entendimento. Na verdade, acho que os posts a partir daqui vão só complementar a primeira história. Mas mesmo assim poderão ser lidos independentemente. Pretendo escrever uma série de posts envolvendo a Yellow Night e mais tarde fechar o ciclo de histórias com mais ou menos uns dez posts. Espero que gostem e que isso não seja um problema! Mais uma vez ressalto que os mini-contos aqui representam pessoas que eu conheço e suas características mais marcantes pra mim.
 
Assim que alcançou o asfalto do centro da cidade Fernanda colocou os fones-de-ouvido, escolheu aquela música favorita, ajeitou o cachecol e seguiu o caminho para casa. O dia não poderia ter sido melhor, a aula tinha sido calma e relativamente não entediante, estava com todas as suas pendências em dia e hoje não havia sentido dores de cabeça (Ultimamente elas tem se intensificado). A única coisa que a preocupava era o céu que se fechava e desta vez, somente desta vez, não estava munida de um guarda-chuva.
"Eu acho que escolhi o curso certo..."
Ela divagava em seus pensamentos ao som de Yelle (uma cantora que nenhum de seus amigos conhecia) e sonhava com sua formatura, seriam pelo menos mais alguns anos cursando artes cênicas.
O clima da cidade lhe dava um fervor interno, o sol se punha no horizonte e as pessoas se agitavam mais e mais. O fato é que Fernanda estava morando sozinha pela primeira vez, e essa sensação de independência e ao mesmo tempo perigo iminente a satisfazia.
A chuva então, caiu. Repentinamente, caiu.
"Droga!" Pensou ela, enquanto fugia da chuva. Entrou correndo no maior estabelecimento comercial da região, a galeria Flavis. Nesta galeria podemos encontrar lojas de tudo, são sete blocos, três ao sul e quatro ao norte. Os três do sul eram prédios residenciais e os quatro do norte eram lojas e mais lojas. Fernanda estava perambulando pelas lojas, procurando um guarda-chuva. Talvez ela estivesse apenas matando o tempo, até a chuva parar.
A chuva não parou.
Fernanda decidiu então cruzar a galeria e sair por um dos blocos residenciais, chegaria mais rápido em casa, já que não tinha encontrado nenhum guarda-chuva nas lojas. A chuva parecia cair com mais força agora, seria impossível não chegar molhada em casa. O problema era que desta vez sua mãe não lavaria suas roupas, e ela não ouviria o usual discurso sobre levar uma sombrinha na mochila ou checar a previsão do tempo.
  Estava tudo bem, Fernanda estava quase de volta ao centro da cidade, tomando todo o cuidado pra não se molhar quando avistou uma garota de baixa estatura atirar um guarda-chuva amarelo no lixo e sair correndo. A garota usava um vestido mal-acabado, presumiu Fernanda, pés descalços, encharcada...
 Esperou a garota se afastar e pegou o guarda-chuva, que por sinal estava em perfeitas condições de uso, também notou que havia um nome gravado em baixo relevo.
"Clarissa de Sá."
  Agora só precisava andar mais algumas quadras e estaria no seu apartamento. Sua surpresa foi encontrar primeiro cruzamento depois da Galeria Flavis a menina descalça estendida, ou pelo menos o que restou dela, no asfalto. O caminhão ainda estava manchado de sangue.
Fernanda olhou para a garota e sentiu náuseas, ela parecia estar viva.
Procurou sair dali o mais rápido possível, mas a multidão que se aproximava a fez chegar ainda mais perto do local temido e acidentalmente (mas com um pouco de curiosidade), Fernanda contemplou o olhar desesperador da vítima no seu último fôlego. A cena lhe causou tanto horror que acabou por vomitar, ali mesmo.
Nesta noite, ao deitar-se Fernanda recordou das últimas palavras sussurradas pela menina descalça:
"Amarelo."
"Maldito."
"Cuidado."
E as dores de cabeça recomeçaram.