Yellow Umbrella

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Galeria Flavis


O conto a seguir é parte complementar dos contos Yellow Night e Giovanna e René, sugiro que leia-os para melhor entendimento. Na verdade, acho que os posts a partir daqui vão só complementar a primeira história. Mas mesmo assim poderão ser lidos independentemente. Pretendo escrever uma série de posts envolvendo a Yellow Night e mais tarde fechar o ciclo de histórias com mais ou menos uns dez posts. Espero que gostem e que isso não seja um problema! Mais uma vez ressalto que os mini-contos aqui representam pessoas que eu conheço e suas características mais marcantes pra mim.
 
Assim que alcançou o asfalto do centro da cidade Fernanda colocou os fones-de-ouvido, escolheu aquela música favorita, ajeitou o cachecol e seguiu o caminho para casa. O dia não poderia ter sido melhor, a aula tinha sido calma e relativamente não entediante, estava com todas as suas pendências em dia e hoje não havia sentido dores de cabeça (Ultimamente elas tem se intensificado). A única coisa que a preocupava era o céu que se fechava e desta vez, somente desta vez, não estava munida de um guarda-chuva.
"Eu acho que escolhi o curso certo..."
Ela divagava em seus pensamentos ao som de Yelle (uma cantora que nenhum de seus amigos conhecia) e sonhava com sua formatura, seriam pelo menos mais alguns anos cursando artes cênicas.
O clima da cidade lhe dava um fervor interno, o sol se punha no horizonte e as pessoas se agitavam mais e mais. O fato é que Fernanda estava morando sozinha pela primeira vez, e essa sensação de independência e ao mesmo tempo perigo iminente a satisfazia.
A chuva então, caiu. Repentinamente, caiu.
"Droga!" Pensou ela, enquanto fugia da chuva. Entrou correndo no maior estabelecimento comercial da região, a galeria Flavis. Nesta galeria podemos encontrar lojas de tudo, são sete blocos, três ao sul e quatro ao norte. Os três do sul eram prédios residenciais e os quatro do norte eram lojas e mais lojas. Fernanda estava perambulando pelas lojas, procurando um guarda-chuva. Talvez ela estivesse apenas matando o tempo, até a chuva parar.
A chuva não parou.
Fernanda decidiu então cruzar a galeria e sair por um dos blocos residenciais, chegaria mais rápido em casa, já que não tinha encontrado nenhum guarda-chuva nas lojas. A chuva parecia cair com mais força agora, seria impossível não chegar molhada em casa. O problema era que desta vez sua mãe não lavaria suas roupas, e ela não ouviria o usual discurso sobre levar uma sombrinha na mochila ou checar a previsão do tempo.
  Estava tudo bem, Fernanda estava quase de volta ao centro da cidade, tomando todo o cuidado pra não se molhar quando avistou uma garota de baixa estatura atirar um guarda-chuva amarelo no lixo e sair correndo. A garota usava um vestido mal-acabado, presumiu Fernanda, pés descalços, encharcada...
 Esperou a garota se afastar e pegou o guarda-chuva, que por sinal estava em perfeitas condições de uso, também notou que havia um nome gravado em baixo relevo.
"Clarissa de Sá."
  Agora só precisava andar mais algumas quadras e estaria no seu apartamento. Sua surpresa foi encontrar primeiro cruzamento depois da Galeria Flavis a menina descalça estendida, ou pelo menos o que restou dela, no asfalto. O caminhão ainda estava manchado de sangue.
Fernanda olhou para a garota e sentiu náuseas, ela parecia estar viva.
Procurou sair dali o mais rápido possível, mas a multidão que se aproximava a fez chegar ainda mais perto do local temido e acidentalmente (mas com um pouco de curiosidade), Fernanda contemplou o olhar desesperador da vítima no seu último fôlego. A cena lhe causou tanto horror que acabou por vomitar, ali mesmo.
Nesta noite, ao deitar-se Fernanda recordou das últimas palavras sussurradas pela menina descalça:
"Amarelo."
"Maldito."
"Cuidado."
E as dores de cabeça recomeçaram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário