Resolvi então reescrever o conto "Yellow Night", aproveitei umas ideias e sugestões de professores da escola e de um amigo. Espero que gostem do fim que dei a história. Ele não é definitivo e portanto pode ser "alterado" conforme o gosto de vocês. Basicamente é o mesmo conto de uma maneira independente, sem precisar do resto dos contos daqui. Além da minha escrita melhorada.
Madrugada
de 23 de agosto de 2012.
Era uma
noite quente de verão na cidade de Helianthus, muitos jovens como
eu, principalmente universitários solteiros, aproveitavam a noite
para se divertir. O “point” mais famoso da cidade era a Yellow
Night. Conhecida pelas festas temáticas, onde geralmente você
precisava ir com algum item da vestimenta na cor amarela. Foi lá
mesmo que a encontrei.
Música
alta, bebidas, beldades dançando na pista... O ambiente estava
propício para “caça”. Depois de analisar várias meninas,
escolhi uma morena dançante. Ela parecia tão descontraída... de
uma certa forma se misturava ao cenário da cidade lá fora. Além do
mais, aparentava estar bêbada, e isso facilitava a minha conquista.
Me
aproximei devagar, como havia feito tantas outras vezes... Dancei um
pouco ao seu redor antes de cochichar besteirinhas ao pé do seu
ouvido. Em dois minutos eu já sentia seus lábios nos meus.
Quentes... molhados... além, do cheiro de vodka que ela exalava.
Mesmo bêbada ela beijava bem, e isso era ótimo.
- Quer
sair daqui? - perguntei.
- Pra
onde? - Ela respondeu meio vacilante, aposto que se estivesse sóbria
teria recusado.
- Ah,
pro meu apartamento!
- Eu
adoraria...
Peguei-a
pela mão, “Está feito!”, pensei. Quando estávamos quase na
porta da saída, ela lembrou que precisava pegar alguns pertences no
guarda-volumes. Esse tipo de atraso sempre me irritou. E para piorar,
era um guarda-chuva amarelo, que além de feio era desnecessário,
devido a escassez de chuvas desta época do ano nesta região do
país.
Logo
estávamos à cem por hora, em direção ao meu apartamento. Minha
moto é minha companheira, sempre senti que numa cidade podre e suja
como esta, só ela seria confiável.
- Estou
com medo – disse ela, apertando minha cintura.
- Do
quê? - gritei, praticamente. O ruído da cidade atrapalhava nossa
comunicação.
- Você
está indo muito rápido!
- Feche
os olhos, então. - sugeri, mal sabia que me arrependeria de ter sido
tão frio.
Ela
recostou a cabeça em minhas costas e segurou-se com mais força em
meu abdômen. “Droga, essa aí é sentimental! O pior tipo de se
livrar na semana seguinte.” Foi o único pensamento que me veio a
cabeça durante a viagem. Meu negócio era sempre sexo e tchau!, mas
as sentimentais nunca entendem.
Elas não
entendem que para saciar o desejo carnal, os homens iludem, falam,
mentem e desmentem. Mas a vida as faz entender. Eu as fazia entender.
Quando
chegamos ao estacionamento, a primeira coisa que ela fez foi checar
se o guarda-chuva ainda estava preso à lateral da moto. Resolvi
então perguntar:
- Pra
quê esse guarda-chuva?
- Nunca
se sabe quando pode chover, não é? - após dizer isso ela deu um
sorrisinho meio vacilante, como quem tem medo de ter desagradado.
Definitivamente ela era linda... “Pena ser uma maluca...”, eu
pensei. Quem me dera lamentar apenas sua suposta maluquice hoje.
No
elevador trocamos algumas informações banais, como nome,
interesses, idade, etc... Coisas que eu faria questão de esquecer
depois. Ao entrar no apartamento, ofereci água, biscoitos (velhos) e
mostrei onde era o banheiro. Ela recusou todas as ofertas e foi
direto para o quarto. Isso a fez alguns pontos comigo.
Beijos
para nos conhecermos melhor, tirar a roupa com jeito para nos
entreter, preliminares curtas... e já estávamos no ato! E nossa!
Devo salientar aqui que ela sabia o que estava fazendo.
Seu
corpo, jovem, cheio de amor para dar, cheio de energia! Nesta noite
ofereci o meu melhor para essa estranha, e senti que ela ofereceu o
seu melhor também. Nossos corpos estavam em sintonia, nossos
beijos... nossos olhares... Cada movimento, cada expressão, cada
gemido abafado. Ao passo que o ato se concluía, eu percebia a joia
rara que se deleitava comigo em minha cama. Também comecei a cogitar
ligar no dia seguinte, deixar-me apaixonar. Realmente, ela era
demais!
Terminamos
quando nossas energias haviam se esgotado, logo ao amanhecer.
Dormimos enroscados, como um casal extremamente íntimo. A noite que
tivemos nos tinha concedido tal privilégio.
* * *
Acordei
sozinho, e estava chovendo. Ela estava certa... Andei pelo
apartamento e não a encontrei, estaria ela no banheiro? Tentei
lembrar do seu nome para chamá-la a porta, “Clarissa? …
Cecília?”, que seja! Entrei sem bater e para minha surpresa ela
não estava lá. Fiquei louco só de pensar que nunca mais a veria,
procurei vestígios, o guarda-chuva...? Isso! Estava lá, encostado
na cama. Legal! Agora vou ter uma desculpa para revê-la!
Notei
que havia um nome grava no mesmo, que sorte! Procurei em todas as
redes sociais populares, mas não encontrei nenhum perfil que
parecesse ser o dela.
“Clarissa
N. de Sá”
Tentei
então simplesmente a busca convencional. Não que eu esperasse
encontrar algo a esse ponto, afinal... eu mereço ser sacaneado. Mas como
último recurso, tentei mesmo assim!
Encontrei
alguns resultados, mas todos com fotos que não eram dela. Depois de
duas horas procurando, quando estava quase perdendo as esperanças,
digitei na barra de pesquisa “Clarissa N. de Sá guarda-chuva
amarelo”. Para a minha surpresa seis resultados apareceram, todos
compatíveis com o que procurei e todos páginas de jornais
regionais.
Abri o
primeiro resultado, eu tentaria todos se fosse necessário. Não foi
preciso. A foto dela foi a primeira imagem a carregar, a notícia era
de exatamente dois anos atrás. Corri a página em busca de algum
endereço ou telefone de contato, até perceber o aspecto “policial”
que a página continha.
Parei,
respirei. Então li a matéria com calma.
O texto
relatava um caso mórbido de homicídio, no qual, uma frequentadora
da famosa “rave” chamada “Yellow Night”, tinha sido estuprada
e assassinada ao voltar para casa. Outros detalhes deixavam o caso
mais sinistro: ela tinha sido espancada com um guarda-chuva que
carregava, o qual, segundo a família, foi um presente de infância.
Li quase
todas as matérias que encontrei sobre o caso, muitas vezes. Olhava
para o guarda-chuva recostado a beira da cama, incrédulo, e então
voltava a reler. Quando percebi, já era noite. Isso estava me
deixando louco, o que acontecera esta noite afinal?
Joguei
meu corpo na cama. Acabei adormecendo. No sonho, lembrava a noite
surreal que tive. Cada momento, cada palavra, cada olhar. Minha débil
consciência onírica pensava “Se ao menos eu soubesse que eu te
teria só por uma noite!”.
Acordei
em meio a lágrimas, abafei um grito de desespero no travesseiro.
Então peguei o guarda-chuva, cheirei-o, apertei-o contra mim...
Joguei
com raiva o maldito guarda-chuva pela janela, que se abriu durante a
queda. Ainda chovia lá fora. E ele estava lá, aberto, forte,
imponente, se defendendo da chuva. Hesitei por um momento, mas corri
para o térreo. Eu precisava recuperá-lo.
Recuperei
o tal guarda-chuva, para mim, para se fundir a mim. E espero que esta
carta explique o motivo do meu suicídio.
Vou te
reencontrar querida Clarissa.